domingo, 11 de julho de 2010

E a vida continua...

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Por Leonardo Martins


Com o título da Espanha no Mundial, o ciclo de mais uma Copa do Mundo se renova, o Mundo do futebol, agora, se voltará para nosso país, palco da próxima Copa em 2014. Mas a Copa na África do Sul, a primeira no Continente Negro, mostrou uma especialidade que nunca se viu na história das Copas.

Muito se falou que a África do Sul não conseguiria realizar o Mundial, por ser um país em desenvolvimento, mas a força do povo africano conseguiu fazer com que a Copa fosse boa e, principalmente, que a África fosse vista sob outros olhos, sem aquele olhar de inferioridade, que sempre atrapalhou o pleno desenvolvimento do Continente.

Quando a Copa começou no mesmo Soccer City, que hoje, coroou o Campeão do Mundo, estava se realizando um sonho, que para muitos era impossível, realizar uma Copa do Mundo dentro de um país com muitos problemas sociais, semelhantes aos nossos. É claro que não seria uma copa perfeita, como foi a anterior na Alemanha, mas os sul-africanos deram o máximo de si para realizar uma Copa dentro da suas especificidades. E este objetivo foi conquistado com louvor, não tivemos nenhum problema sério de segurança e de transportes, só pequenos casos isolados.

Foi a Copa diferente de todas as outras que já havia acontecido. O show da torcida africana com suas barulhentas vuvuzelas e sua alegria de receber uma Copa do Mundo foi um dos destaques do torneio.

Outras coisas que chamaram a atenção do mundo, coisas até curiosas. Teve um polvo que acertou tudo, inclusive o jogo final. Teve pé-frio nos estádios (caso de Mick Jagger), mulher bonita saindo nua em revistas e com belos dotes peitorais (AHH Larissa!!), mulher de jogador enfeitiçando em campo, mas que saiu da África feliz (caso da Namorada do Capitão Campeão Casillas, Sara Carbonero). Teve país campeão mundial saindo na primeira fase, casos de Itália e França.

Mas o grande ressurgimento acontecido na Copa de 2010, foi o Uruguai, os uruguaios chegaram a Copa sem favoritismo e chegou, com um time bem uruguaio, as semifinais, lugar que não ocupava desde a decada de 70. Este ressurgimento da Celeste olímpica foi coroado com a eleição de Diego Forlan como craque do Campeonato, este foi o principal troféu uruguaio.

Enfim, coisas que só a Copa do Mundo consegue fazer, um torneio com dimensões e atenções mundiais. Agora o bastão está com a gente, cabe a nós realizar um torneio fantástico, dentro de nossas limitações, construir e reformar bons estádios e cuidar da infra-estrutura do país.

Também aproveito em nome da equipe do Esporte é Vida para agradecer pelo carinho e força que vocês nos deram nesta cobertura da Copa do Mundo, muito trabalho e o sucesso veio com 100% dos jogos cobertos. E a vida continua com a cobertura do Brasileirão e dos outros eventos, continuem nos prestigiando.

Enfim, Campeã Mundial

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Por Gabriel Seixas


- Após 12 anos, voltamos a presenciar um campeão mundial inédito. É bem verdade que alguns apontaram a Espanha como favorita antes mesmo do início da Copa, mas sempre com um pé atrás. É o tal receio de acreditar numa seleção sem que ela já tenha conquistado o Mundial em alguma oportunidade, que a partir de hoje, não existirá mais com os espanhois. Foi a coroação da maior geração futebolística da história do país, que tem sua base no atual maior time do continente europeu, o Barcelona. Contando com o recém-contratado Villa, foram sete blaugranas em campo desde o início.

- Em todos os sentidos, a Espanha fez história. Já não bastasse ganhar pela primeira vez uma Copa do Mundo, também foi a primeira seleção europeia a vencer um Mundial fora do continente. Durante toda a sua jornada na África do Sul, disputando sete partidas, foram apenas dois gols sofridos. Dentre todos os esquadrões campeões mundiais, é a segunda melhor defesa da história. Em contrapartida, com apenas oito gols marcados, a Fúria agora é a campeã que ostenta o pior ataque. Pouco importa. Esse elenco encantou o mundo, com um toque de bola mágico e uma objetividade incomum para times que se preocupam mais com as virtudes do adversário do que com as próprias.

- Tudo isso é fruto de um ótimo trabalho liberado pelo técnico Vicente del Bosque, que assumiu a Fúria após o título da Eurocopa em 2008, manteve a base e integrou vários jovens ao elenco, desde os titulares Piqué, Busquets e Pedro até o suplente Javi Martinez e Jesús Navas, por exemplo. Fazendo justiça, também se faz necessário exaltar o elenco holandês, que teve a chance de ser campeão mundial vencendo todas as suas partidas nas eliminatórias e na Copa, mas tropeçou no duelo final. A invencibilidade de 26 jogos chegou ao fim.

- Quanto ao jogo, é incoerente compará-lo a disputa pelo 3º lugar. Tudo bem que o jogo de ontem entre Alemanha e Uruguai foi tecnicamente melhor, mas muito pelo fato das duas equipes jogarem soltas, sem tanta responsabilidade pelo resultado. Espanha e Holanda se preocuparam mais em neutralizar o adversário, principalmente a segunda, que via a sua estratégia defensiva naufragar com o toque de bola envolvente dos espanhois. Na melhor chance de abrir o placar, Stekelenburg fez grande defesa em cabeçada de Sergio Ramos.

- A partir daí, a Holanda fez o que só a Suíça teve a competência de fazer frente aos espanhois neste Mundial: pressionar a saída de bola. A estratégia era excelente, mas poderia prejudicar o time na parte física em uma eventual prorrogação, por exemplo. Até o fim da etapa inicial, tudo saiu dentro dos conformes, com a Oranje até mesmo saindo para o ataque em algumas ocasiões. Com dificuldade, claro, já que Sneijder era bem marcado por Xabi Alonso e Busquets, e Robben não estava nos seus melhores dias.

- Na parte técnica, o segundo tempo ficou muito aquém das expectativas. O suficiente para que tantas pessoas viessem com a mesma conversa de ‘a pior final da história’, que sempre aparece de quatro em quatro anos desde 1994, ou creditando o baixo rendimento até mesmo a falta de tradição das duas equipes em finais. Tudo balela. Espanhois e holandeses sentiram o nervosismo, o que refletiu no alto número de faltas cometidas. No total, foram 47, com nada mais, nada menos do que 13 cartões amarelos distribuídos.

- Se não havia nenhum destaque individual em campo, sobrou para o árbitro Howard Webb roubar a cena. Logo o ‘lord’ inglês, que foi um dos melhores árbitros durante o Mundial, e merecidamente recebeu a responsabilidade de apitar a grande final, acabou fugindo de suas características. Acostumado a apresentar poucos cartões amarelos, acabou encontrando neles uma forma de conter a rispidez das equipes, principalmente dos holandeses. Resultado: amarelou ‘incontrolavelmente’ vários jogadores e poderia até ter expulsado alguns, casos de van Bommel e principalmente De Jong, após solada violenta em Busquets.

- Para dar movimentação ao time, Vicente del Bosque colocou Jesús Navas e Fabregas nas vagas de Pedro e Xabi Alonso. O holandês van Marwijk respondeu na mesma moeda, trocando o inoperante Kuyt por Elia. Nenhuma das alterações resolveu o jogo no segundo tempo, que teve como protagonistas, Robben e Casillas. Quando o holandês saiu cara a cara com o goleiro espanhol, foi Casillas quem se adiantou, mandando a Jo’bulani para escanteio com os pés. Que me desculpe Luis Suarez, mas esta foi a defesa da Copa.

- Na prorrogação, o cansaço venceu o time holandês. Marwijk tentou as entradas de van der Vaart e Braafheid, mas del Bosque também tinha sua carta na manga: Fernando Torres. Heroi do título da Eurocopa em 08 e titular no início da Copa, ele recebeu a missão de substituir David Villa, logo ele que posteriormente se consagraria como um dos artilheiros da Copa, marcando cinco dos oito gols da Fúria no continente africano.

- Pouca gente entendeu, mas Torres cumpriu bem sua missão. Aos 12 minutos do segundo tempo, Jesús Navas começou a jogada do gol do título. Ele arrancou com velocidade pela direita e passou para Iniesta, que de calcanhar, entregou para Fabregas. A partir daí, Iniesta só apareceria no complemento da jogada. Isso porque Fabregas serviu Torres, que tentou inverter o jogo da ponta esquerda para a direita, mas van der Vaart, desajeitado, fez o corte. A bola sobrou limpa na frente de Fabregas, que deu um tapa para Iniesta na direita, e em posição legal, o meia acertou um chute forte e preciso, sem a menor chance de defesa para Stekelenburg.

- Àquela altura, a Holanda já estava sem Heitinga, expulso. Mas esse é o detalhe menos importante da história. Aquele era o gol do título, o mais importante da história da seleção espanhola. Iniesta, assim como seus companheiros Casillas, Puyol e Xavi, já pode dizer que conquistou tudo em sua vida: Champions League, Campeonato Espanhol, Copa do Rei, Eurocopa e Copa do Mundo. Mas ao contrário dos outros três, ele também se dá ao luxo de dizer (bem alto) que foi o autor do gol do título mundial. Justo, muito justo.

- O gol poderia ser de Xavi, que acertou quase 600 passes nesse Mundial. Poderia ser de Villa, o artilheiro isolado da Fúria no torneio. Poderia ser de Piqué ou Puyol, a dupla de zaga que mistura (com qualidade) elementos como técnica e raça, e por isso pode ser considerada a melhor do mundo. Poderia ser até de Casillas, o melhor goleiro desta Copa, e o único arqueiro a realizar uma exibição memorável na África do Sul. Poderia ser de qualquer um, mas ele teria de ser necessariamente espanhol. Parabéns, Espanha! Tanto na teoria, quanto na prática, é a melhor seleção do mundo.

- Melhores da Copa


- A FIFA acertou em cheio nas premiações individuais. Apontou Casillas como o melhor goleiro, Müller como a revelação e o uruguaio Diego Forlán como o craque da Copa do Mundo. Quem leu o texto anterior, que conta a derrota da Celeste para a Alemanha, sabe que eu concordo em gênero, número e grau com a escolha de Forlán. Quanto a chuteira de ouro, Sneijder, Villa, Forlán e Müller ficaram empatados na ponta com cinco gols marcados, mas como Müller deu três assistências, e esse era o primeiro critério de desempate, levou o prêmio.

- Minha seleção da Copa: Casillas (Espanha); Lahm (Alemanha), Piqué (Espanha), Lúcio (Brasil), Fucile (Uruguai); Schweinsteiger (Alemanha), Xavi (Espanha), Sneijder (Holanda), Müller (Alemanha); Forlán (Uruguai), Villa (Espanha). Técnico: Oscar Tabarez (Uruguai). E a sua?

- Esse é o terceiro Mundial que acompanho, e sem dúvida, no geral, foi o mais agradável. Não caiam na conversa de que esta Copa foi a pior de todos os tempos na parte técnica, e que ela será marcada apenas por personagens como Polvo (100% em seus palpites nos jogos), Larissa Riquelme (sem palavras), Vuvuzela e Jabulani. A Copa na África merece seus créditos, principalmente pelo legado que deixou. Na minha opinião, é a melhor desde 86, menos para aqueles que acham que o Mundial acaba quando o Brasil é eliminado...

- Copa do Mundo? Só daqui a quatro anos, aqui no Brasil. A crise de abstinência será inevitável. Em compensação, a CBF não deu descanso, e o Campeonato Brasileiro já estará de volta na quarta-feira. Para quem, assim como eu, ficou “mal acostumado” a ver grandes jogos com Holanda, Alemanha, Espanha e outras em campo, certamente terá dificuldades em se readaptar com a realidade do nosso futebol. Volta logo, Copa! Afinal, num momento como esse, Fernando Vanucci diria “o Brasil é logo ali”. Pensando bem, é logo aqui mesmo.