quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Minha camisa vermelha...e a taça na mão

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Por Gabriel Seixas

Particularmente, me senti um autêntico Colorado na noite desta quarta-feira. A sensação é indescritível. É o melhor time sul-americano da década. Pelos números, a conquista desta Libertadores parece algo comum. O torcedor do Inter está mal acostumado. Só nos últimos quatro anos, são duas Libertadores, um Mundial, uma Sul-Americana e uma Recopa Sul-Americana na conta. Ufa!
A festa foi perfeita. Há quem não goste, mas a 'Camisa Vermelha', adaptação dos colorados da música 'Brasília Amarela', do Mamonas Assassinas, contagiou até mesmo a quem não esteve presente no Beira-Rio. E quem dá importância ao fato de não ter sido tão fácil quanto o esperado? Nenhuma novidade. O tamanho das conquistas do clube é historicamente proporcional às dificuldades que elas exigem.

Alguns preferem diminuir a conquista do Sport Club Internacional. Alegam que o Chivas foi um dos piores finalistas de Libertadores dos últimos anos. De fato, estão certos. Mas esquecem que o até então campeão da Libertadores, Estudiantes, o até então campeão argentino, Banfield, e um dos melhores times do Brasil, o São Paulo, ficaram pelo caminho. Todos tiveram suas camisas pisadas e rasgadas pelo Inter, como diria o saudoso Pedro Ernesto.

Outro grande mérito dos gaúchos foi o replanejamento durante a temporada, a começar pelo comando. O uruguaio Jorge Fossati, tão contestado no início do ano, deu lugar a Celso Roth, que teve de encarar tanta ou até mais desconfiança do que seu antecessor. Deu certo.


Merecidamente, Roth chutou pra longe o estigma de ser um treinador que morre na praia na “hora H”. De amarelão, passa a figurar entre os principais técnicos do futebol brasileiro.
Foi uma das Libertadores mais alternativas de todos os tempos. O artilheiro? Thiago Ribeiro, do Cruzeiro, que despediu-se da competição nas quartas-de-final. O craque? Um reserva. Tão inexplicável quanto a predestinação que cerca o menino Giuliano. Contra São Paulo, Chivas (duas vezes) e especialmente contra o Estudiantes, só gols decisivos. Tem idade olímpica e futebol para ser homem de confiança de Mano Menezes na seleção.

Giuliano não é o único que veste a camisa do Inter e tem o selo “seleção brasileira de qualidade”. Pelo menos não era, enquanto Sandro atuou pelo clube. A conquista da América marcou a despedida do volante, acertado com o Tottenham, da Inglaterra. Assumo o risco de ser alvo de críticas, mas não vejo em Sandro um jogador com tanto potencial quanto pintam. É bom jogador, mas longe de ser acima da média. Não me surpreenderei se daqui a seis meses estiver de volta ao Brasil. Hoje, protagonizou uma atuação segura.

Quem vem jogando o fino da bola é Kleber. Uma pena que o lateral tenha recuperado o bom futebol de 06-07 tardiamente, aos 30 anos. Com 34 em 2014, não se enquadra no perfil de renovação proposto pela nova seleção brasileira, mas volta a figurar entre os melhores do futebol brasileiro na posição. Tal como a assistência para Giuliano no primeiro jogo, a de hoje, para Rafael Sóbis, foi milimétrica.

E olha que Rafael Sóbis foi um dos maiores equívocos de Roth para o jogo de hoje, mas tem estrela. O treinador ficou sem opções para o ataque com o desfalque de Alecsandro, e foi obrigado a fazer de Sóbis uma referência na frente. Não deu certo. Entretanto, marcou o gol de empate, o primeiro desde seu retorno ao Inter, deu lugar ao jovem Leandro Damião e ainda viu o suplente de 21 anos concretizar a virada.

Acreditem: mesmo jogando um futebol medíocre, o Chivas colocou o título do Inter em xeque. Nem mesmo os mexicanos pareceram acreditar no gol de Fabian, no finalzinho do primeiro tempo, que inaugurou o placar da partida. Um giro de centroavante, um chute improvável e um gol injusto. Depois disso, mais nada. Até teve, mas o gol do time de Guadalajara no último minuto sequer vale registro.

O futebol tem das suas. Celso Roth já foi incontáveis vezes chamado de burro. Giuliano já foi deixado de lado pelo Flamengo, que não aceitou pagar 1,5 milhão quando ao Paraná, seu antigo clube, por entender que o preço era “muito alto”, e pelo Palmeiras, quando Luxemburgo era o treinador e vetou sua contratação. Fabiano Eller e Pato Abbondanzieri, ambos de qualidades técnicas contestáveis, somam sete conquistas de Libertadores.

A América é Colorada mais uma vez. Venceu o melhor, o mais inteligente e o que está mais acostumado a jogar uma competição da proporção da Libertadores. Aos Colorados, uma singela homenagem com a letra da música 'Camisa Vermelha', o grande single da principal competição sul-americana em 2010.

Inter
Estaremos contigo
Tu és minha paixão
Não importa o que digam
Sempre levarei comigo
Minha camisa vermelha
E a cachaça na mão
O Gigante me espera
Pra começar a festa
Xalaialaia Xalaialaia Xalaialaia
Você me deixa doidão
Xalaialaia Xalaialaia Xalaialaia
Inter do meu coração